Obrigatório Votar


Urna

Votar não é um direito, é um dever. Mais do que isso, é uma obrigação cívica. Em raros países há mesmo penalidades para quem não vote. Não está contente e acha que por isso não vale a pena votar? Engana-se e deixa que os políticos o (a) enganem também, encobrindo-lhe a maneira como deve demonstrar a sua opinião sobre o seu desacordo. Encobrindo-o, tentam assim evitar que se lhes manifeste qualquer desacordo. Pois se as pessoas votam, e aqueles que não estão contentes se abstêm de o dizer ou demonstrar, logo se conclui que toda a gente em geral está de acordo com eles e que nada têm a reprovar, muito menos a incriminar.

Se não está de acordo com a política seguida pelos governos, não se cale, grite-o bem alto nas urnas. Existe uma maneira mundialmente reconhecida para o fazer, não fique em casa nos dias de eleições. Políticos e jornalistas portugueses nunca o disseram à população. Porquê?  Se isto é largamente encoberto pelos políticos e pelos jornalistas, a ponto de que uma tão grande maioria das pessoas o desconhecem ou não lhe dão a devida importância, deixo-lhe a si a conclusão porque eles assim procedem. Quanto em quem votar, das duas uma: ou vota em quem confia que lhe vai defender os seus interesses e os dos seus próximos, ou se não acredita em ninguém, vota na mesma, mas em branco. O voto em branco é uma estalada na cara descarada dos políticos. Em França, no princípio da década de 1980, havia grande descontentamento com os políticos e a profunda corrupção que lavrava, quase tão grande com a que ainda existe em Portugal. A votação em branco provocou grande polémica, demonstrou a falta de confiança nos governantes e ajudou a alterar muitas coisas importantes. Alguém aqui jamais tocou nesse assunto? Ninguém aqui o mencionou porque não convinha aos políticos. E continua a não convir. Os jornalistas, por seu lado, em lugar de desempenharem o seu papel de informar (ou para que servem eles?) fizeram bem o jogo dos políticos e agora fazem-no ainda melhor.

Em França, onde a corrupção é co0mum e não é bom exemplo para nenhum país, a corrupção navegava nessa altura a todo o vapor, embora ainda assim não existissem – nem nunca tivesse existido, como em nenhum país com pretensões a democrático – lugares que os governos, corruptos e gananciosos reservassem a políticos (na administração ou fora dela), como aqui. Nem ordenados para políticos ou directores gerais da administração de valores monstruosos como os pagos neste país de miséria. Nem indemnizações astronómicas por saques simulados para políticos. É este outro assunto em que tanto os jornalistas como os políticos nos têm ciosamente encoberto. Quando estes últimos tocam no assunto fazem-no com pinças, ao de leve e com naturalidade e simplicidade, como se de qualquer coisa realmente natural se tratasse. Conivência? Quantas pessoas leram ou ouviram jornalistas dizerem-nos onde os partidos vão buscar o dinheiro  para se enriquecerem? quantos ouviram ou viram falar das muitas dezenas de milhões de Euros que  os partidos roubam ao Estado para substituir o modo de financiamento mudado em 2000? Não esqueçamos que se o fazem é com a aprovação e com a bênção de quem neles vota: de acordo com o sistema de repartição do espólio arrancado à população, elaborado por num parlamento composto por políticos interessados no seu bem-estar próprio (e não no do país) à custa do povo, cada voto rende quase €12 ao partido votado. Contem-se os votos por partido e sabe-se quanto recebe cada. Quais os que roubam mais? Os maiores partidos e mais votados, evidentemente. Mais uma vez conivência dos jornalistas?

Há séculos que o privilégio medieval dos suseranos em desflorarem as jovens virgens e a que na França feudal tinha o nome de "droit de cuissage" foi abolido. Todos os outros privilégios têm caído, porque privilégio, significando desigualdade, não pode coabitar com democracia. Todos os privilégios são anti-democráticos. Num país democrático, por exemplo, as ruas são do domínio público e pertencem a todos os cidadãos, tal como no Artº 13º da nossa constituição. Assim sendo, não se deveriam ver em Portugal, como se vêm por todo o lado lugares de estacionamento reservados a repartições do estado ou outras instituições similares, nem a embaixadas ou consulados, nem a ninguém nem a nenhuma entidade, excepto à polícia, bombeiros ou aos serviços de saúde ou de urgências no interesse geral dos cidadãos e não do restrito interesse dos privados ou administrativos. A isto aqui ainda há quem chame democracia.

Mas, infelizmente, ainda há por cá bem pior, baseado na alta corrupção, ganância, roubo descarado da população trabalhadora e aceitação destes factos por parte desta última. Só que parece que todos o aceitam e enquanto o aceitarem não mudará. Um serviço de saúde dos mais miseráveis que custa tanto ou mais como os dos países em que é digno desse nome. Uma segurança social que explora os pobres a pondo de os que os tornar ainda mais miseráveis em lugar de os ajudar eficientemente e que está nas lonas. Para o encobrir, a Sta. Casa da Misericórdia fabrica uma publicidade nitidamente direccionada a enganar a população. Dizem-nos que o mesmo se passa nos outros países, mas é uma mentira descarada. Poderia ter-se passado, mas náp passa pela simples razão de que os seus políticos (não os nossos bandalhos incapazes, clara) tomaram as medidas adequadas no seu devido tempo.

Por isso, a não ser que se esteja contente com a situação, todos devem votar; como os políticos dizem, mas não como querem. Cada partido tem o seu ideal, sobre o qual foi fundado e sobre o qual a sua política se deveria reger. É esta a razão básica não só da fundação dos partidos, mas até da sua própria existência. Embora eles mais tarde nem sigam exactamente este caminho, em Portugal já se verificou que pode até ser ao contrário, ou seja, um partido da esquerda proclamar intenções da direita ou vice-versa. (Repete-se actualmente com alguns partidos mais à esquerda.) E até se têm visto partidos da direita afirmarem estarem "ao lado do povo"(!). Ambas as situações são, no mínimo, ambíguas.

É de crer que em Portugal já todos devem ter chegado à conclusão de que o voto no partido não significa voto no ideal do partido. Acreditar em promessas nem mencionar. Como votar então? Pergunta que parece descabida, mas que ao analisarmos as votações dos Portugueses, não parece assim tão fora de propósito. A primeira ideia parece ser a de não dar ouvidos a promessas. A segunda é que promessas com mais possibilidade de cumprimento devem ser mais credíveis. Outra é que, ao certo, cada partido puxa a brasa à sua sardinha e indubitavelmente querem governar não para servir o País, mas para dele se servirem. Isto trata-se não só de parasitismo, mas de evidente traição. Traição aos cidadãos que neles votaram por confiança, traição ao País, no qual todos os cidadãos estão englobados e para quem os eleitos, precisamente por terem sido eleitos, têm deveres e obrigações que convertem em direitos absolutos. O facto de ter sido eleito, mesmo pela totalidade dos votos que fosse, não conferia a nenhum eleito o direito de ir de encontra os desejos, as necessidades e os interesses daqueles que o elegeram. Não lhe dá tampouco o direito de de dispensar de prestar contas ao povo soberano, único verdadeiro soberano em democracia.

Em suma, não restam aos eleitores grandes possibilidades de discernimento na escolha do voto. Ataques entre partidos e candidatos visam apenas enganar-nos. Ainda por cima nem sempre os mais votados são os eleitos... É uma podridão, mas isso já sabemos. Em conclusão, restam três maneiras de escolher em quem votar, as quais, mesmo assim não são 100% certas. (1) Escolher o partido que tradicionalmente e por ideologia mais se aproxima dos ideais do eleitor em particular. (2) Não ligar ao partido e votar no candidato que mais sério pareça, não pelo que nos quer convencer, claro, mas como ele tem conduzido a sua própria vida. (2) Se mesmo assim temos fortes dúvidas e não nos podemos decidir por falta de confiança nos candidatos ou nos partidos, se não acreditamos em nenhum deles, devemos votar na mesma, mas neste caso votamos em branco. Isto parece um tanto simplório e até o é, mas é também a única maneira de expressarmos o que queremos. Não é complicado nem difícil, é até extremamente simples, mas a maioria dos Portugueses têm demonstrado e reafirmado sem cessar que não o sabem ou que ainda não o compreenderam, pois que, quando têm grandes dúvidas abstêm-se e não votam. Permitem que se exprimam apenas aqueles a quem os políticos lavaram a mioleira. É um contributo para o nosso mal estar geral, de todos e do País, para a desgraça em que permitimos que os políticos nos colocassem. Há um ditado que o resume e justifica: "Cada país ou povo tem o governo que merece".

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